No pacote da vaidade de mulheres e homens do mundo político, entram “lipos” para afinar a silhueta e retirar a “papada”, intervenções para eliminar as bolsas embaixo dos olhos, laser para o rosto, implantes de cabelo, aplicações de botox, várias idas ao cabeleireiro e renovação no guarda-roupa.
Na semana passada, o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu implantou 6,7 mil fios de cabelo. Ele fez a cirurgia por indicação do ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que passou pelo mesmo procedimento tempos atrás.
Um dos precursores do “movimento anticalvície” foi o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que há cerca de 20 anos fez o primeiro implante para cobrir as “entradas”.
Hoje, os cuidados do senador vão além da sala de cirurgia: protetor solar, creme “restaurador” e até duas horas de academia por dia.
“É visível que há uma preocupação (dos políticos) com a aparência, o que eu acho normal. É uma manifestação de respeito a quem o político representa”, diz.
Encontrar um político que assuma uma cirurgia plástica ou tratamento estético, no entanto, é coisa rara de se conseguir. Na maioria dos casos, a primeira exigência é feita antes mesmo da primeira ida ao consultório médico: discrição absoluta.
Cirurgia de madrugada
Algumas clínicas de cirurgia plástica oferecem entradas sigilosas para que políticos e famosos sequer cruzem com outros pacientes nas salas de espera.
“Às vezes, quando é uma pessoa muito, muito complicada, a gente opera até de madrugada. Já fiz isso algumas vezes, de operar às 4h da manhã”, conta o cirurgião plástico Alexandre Senra, que tem uma clínica em São Paulo.
Nos próximos dias, o médico fará cirurgias em cinco candidatos a prefeito. Eles não precisarão se preocupar em não serem vistos: na clínica de Senra, uma escada leva o paciente direto ao consultório.
Além de visitas pessoais à casa ou ao HOTEL onde o político está hospedado, o pós-operatório pode incluir procedimentos menos ortodoxos. “Como eles mudam, se sentem mais rejuvenescidos, mais jovens, também mudam o visual, o jeito de vestir e até pedem recomendação de personal stylist”, conta Senra, que recomenda aos pacientes sua grife preferida.
O cirurgião plástico Carlos Oscar Uebel, de Porto Alegre, diz que cerca de 5% de sua clientela são políticos. Em mais da metade dos casos, conta, o paciente opta por fazer um pacote, combinando, por exemplo, uma cirurgia de nariz com uma pequena lipo ou cirurgia no rosto com implante de cabelo.
“Você associa a face com a calvíce: puxa aquela pele atrás da orelha e tira o excesso. Esse couro cabeludo é utilizado para fazer as mudinhas dos fios e já se faz o implante ao mesmo tempo”, explica.
Segundo Uebel, a cirurgia para corrigir a calvície varia de R$ 8 mil a R$ 15 mil. A lipo pode custar desde R$ 6 mil a R$ 10 mil, dependendo do local do corpo. Já a cirurgia de face pode chegar a R$ 15 mil.
A transformação pode até ser ampla – pele, cabelo, roupas -, mas não brusca. Tanto para pacientes quanto para médicos a regra é: quanto mais natural, melhor.
O cirurgião plástico Alexandre Senra diz que os políticos que o procuram querem estar mais joviais, com um “aspecto mais light”.
“Operei recentemente um deputado federal na faixa dos 60 anos. Não posso colocar ele com uma cara de 20, mas eu posso deixar ele com 45 anos, 50, muito bem, com uma cara muito bem disposta”, diz Senra.
No vocabulário de um lado e de outro, as palavras mais usadas são corrigir, atenuar e suavizar.
“A pessoa que tem um desvio de septo e aproveita para corrigir o nariz, não tem nada demais. Se a pessoa tem rugas e quer dar uma atenuada, acho que é normal”, opina o 2º vice-presidente da Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira (PR-PE). Ele não usou o exemplo à toa. Há alguns anos, “levantou” o nariz na seqüência de uma cirurgia de correção de desvio de septo.
Para Inocêncio, a boa aparência pode contribuir para garantir mais votos. “Tem efeito positivo em campanha e eu não critico. (…) O cara diz assim: “ele não se preocupa nem com a vida dele, vai se preocupar com a nossa?””, exemplifica o deputado, que diariamente faz uma hora de pilates e corre 45 minutos.
Pontinhos pretos
Na mesma linha, o consultor político Carlos Manhanelli diz que correções estéticas são importantes – mas apenas correções, frisa.
“Se a pessoa aparece muito na televisão, as olheiras serão sempre ressaltadas pela iluminação. Então o Serra, por exemplo, que tem umas olheiras bastante profundas, costuma usar um pancake, uma correção de maquiagem para se apresentar na TV, o que ameniza bastante o problema dele”, diz.
Manhanelli conta que já fez 220 campanhas. Entre muitos políticos querendo sair do branco total para o preto absoluto nos cabelos e aqueles que exageraram no photoshop, um candidato a deputado estadual foi quem mais deu trabalho para o consultor.
“Ele tirou aquela bolsa embaixo dos olhos e ficou com o olho preto durante três meses. Foi impossível fazer campanha com ele. Fez implante de cabelo e ficou aquela coisa ridícula, aquele monte de pontinho preto. Isso acaba desviando a atenção da pessoa. Você está conversando e ela está olhando pra sua careca, aquele monte de pontinho preto, não está prestando atenção no que você está falando”, relembra. Escova recomendada Passada a polêmica com o deputado federal Clodovil Hernandes (PR-SP), que chegou a chamá-la de feia durante uma discussão na Câmara no ano passado, a deputada federal Cida Diogo (PT-RJ) diz que não liga mais para a história e acha que o visual não é determinante no trabalho do político.
“Se eu estava mais gorda, menos gorda, mais bem arrumada, maquiada, coisas desse tipo, isso nunca interferiu no resultado eleitoral ou no processo de campanha”, diz. Mas confessa: tem vontade de fazer uma lipo no abdômen e passou a fazer escova no cabelo por recomendação de assessores.
Entre uma campanha e outra, Cida Diogo se divide entre dietas para PERDER PESO. É que, para a deputada, as duas coisas estão estritamente relacionadas. Quanto mais perto das eleições, maior a ansiedade.
“Eu sempre brinco falando o seguinte: ou eu fico louca ou eu fico gorda. Então eu prefiro engordar porque depois eu perco peso. Com a ansiedade, o stress, o nervoso, eu como, como, como… O meu apetite vira um negócio enlouquecedor, eu não consigo saciar a fome”, conta a deputada, que chegou a engordar 13 quilos durante uma campanha.