Os cirurgiões que usam a ferramenta afirmam que a tecnologia ajuda a paciente a se sentir mais segura e evita erros na hora da cirurgia. Entretanto, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica é contra a prática e outros especialistas asseguram que o programa pode gerar a expectativa por um resultado que será diferente do real – ato condenado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
A ferramenta cria o efeito tridimensional do corpo da paciente a partir de duas fotos suas de perfil e uma de frente, clicadas pelo próprio médico na hora da consulta. Depois de baixá-las no computador e acrescentar seus dados físicos, em segundos ela vê um protótipo de seu colo com os implantes – com ou sem roupa. Tudo com base em cálculos de altura, peso, medições do tórax e da distância entre os mamilos feitos automaticamente pela ferramenta.
O cirurgião-plástico Alexandre Senra demonstra a simulação em um tablet. (Foto: Camila Neumam/G1)
Na opinião da secretária Thabata de Almeida Pereira, de 22 anos, moradora da zona norte de São Paulo, o resultado da cirurgia ficou semelhante ao da simulação.
Antes de colocar as próteses, ela recorreu à ferramenta para averiguar qual tamanho poderia ser mais adequado na correção de uma assimetria entre os seus seios. Junto ao cirurgião, fez a simulação com um implante de 210 ml. Na cirurgia, o médico introduziu próteses de 205 ml e 215 ml.
“Ficou parecidíssimo, muito engraçado. Dá para ter uma noção bem legal. Eu indico a todo mundo porque dá para ter uma ideia de onde se quer preencher, o tamanho, para você não se arrepender depois”, comenta.
Para Emmanuel Fortes, coordenador da Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos do CFM, se o cirurgião deixar claro que a simulação não condiz com o resultado da cirurgia, a ferramenta pode ser usada sem implicar falta de ética.
“Fazer simulações, com o auxílio do computador, para indicar ao paciente o resultado que se espera alcançar com um procedimento não fere o que diz a resolução 1974/11 [sobre publicidade médica]. O profissional, no entanto, deve deixar claro que não se trata de uma promessa de resultado, mas tão somente de uma simulação. A garantia ou promessa de resultados é vedada”, afirma Fortes.
Vantagem
“A grande vantagem dessa tecnologia é que a paciente visualiza [a prótese] de vários tamanhos e compara seus ângulos, já que cada mulher tem uma forma”, afirma o cirurgião-plástico Alexandre Senra, que usa o simulador há quatro meses em suas pacientes em São Paulo.
Como o programa pode ser acessado pela internet, Senra faz a simulação no próprio computador, sentado ao lado da paciente no sofá de seu consultório.
A secretária Thabata Pereira decidiu colocar silicone nos seios depois de fazer a simulação.
“O segredo do sucesso para um bom resultado estético na cirurgia tem que se basear em uma série de fatores: confiança no médico, muita conversa e agora, como a ferramenta, deixar de ter a possibilidade de errar. Quando você oferece essa visualização pode mostrar o que está propondo e fazer a escolha junto”, afirma Senra.
O arrependimento tende a ser menor com o simulador, pois ele oferece mais segurança à paciente na hora de escolher o implante que será usado na cirurgia, segundo a cirurgiã-plástica Priscila Arruda Bruno, da Clínica Ágape, também em São Paulo.
“Antes a gente simulava mostrando a prótese embaixo do sutiã ou com moldes de papel e via no espelho. Mas a paciente ficava meio perdida porque não conseguia entender direito o tamanho. Com o simulador ela consegue ver a diferença entre tamanhos e evitar exageros”, diz a cirurgiã.
Bruno começou a usar a tecnologia em dezembro de 2010 e desde então crê que o simulador encurtou o tempo entre a consulta e a cirurgia.
“Você vê a reação positiva, a maior vontade de fazer. Uma coisa é você se basear no tamanho do seio de uma atriz, que tem uma altura e um tipo de tórax próprio. Outra coisa é ver no seu tamanho. O programa de computador mostra como é que fica em cada pessoa”, afirma a cirurgiã.
O medo de não gostar do resultado da cirurgia era o que impedia a consultora de marketing Samantha Mazzero, de 36 anos, de aumentar os seios como gostaria. “Queria fazer, mas tinha medo de ficar vulgar e exagerado. Eu não queria ficar sexy, queria ficar feminina. Mas quando vi a simulação de lado, de frente, pensei: como eu não fiz isso antes? Consegui me enxergar”, comenta.
Há um ano e meio, a moradora da zona sul de São Paulo colocou próteses de 275 ml, o mesmo número que colocou na simulação, e recomendou o uso da ferramenta para sua irmã e uma prima.
Desvantagem
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, José Horácio Aboudib, a tecnologia tem de ser encarada com ressalvas. Segundo ele, a simulação tende a aumentar a mama de uma maneira mais geral, deixando-a mais projetada.
“Não sinto falta [do simulador] na consulta porque quase sempre a paciente já tem noção do que quer e com o tempo a gente acostuma a decidir o tamanho. Não conheço cirurgiões que estejam usando e o preço é um pouco caro para o nosso mercado”, diz Aboudib.
O programa é vendido aos cirurgiões em pacotes encontrados no site da empresa suíça Crisalix. Os preços variam entre US$ 490 (R$ 915) para cinco pacientes ao ano, até US$ 5.890 (R$ 11 mil) para número ilimitado de consultas no mesmo período. Segundo os médicos consultados, o valor não é repassado para as pacientes.
Para o cirurgião plástico Luiz Philipe Molina Vana, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a simulação pode induzir a expectativa de um resultado.
“Na simulação 3D acabamos gerando imagens que geram expectativas equivocadas e que colocam a paciente em uma situação ruim, porque muitas vezes não conseguimos supri-las por razões técnicas e você tem uma paciente insatisfeita. Por isso não gosto, não uso e não recomendo”, afirma Vana.
Outra desvantagem do simulador é que ele não pode ser testado em todas as mulheres. A projeção só consegue ter efeito em seios pequenos ou que não estejam muito flácidos, diz Senra.
Tecnologia
O modelo mais atualizado de simulador começou a ser comercializado pela Crisalix em agosto de 2010. Desde então, mais de 1.500 cirurgiões usam a tecnologia em 70 países, dos quais mais de 300 no Brasil, segundo o espanhol Jaime Garcia, presidente e fundador da empresa.
Segundo Garcia, a ideia do simulador surgiu durante uma pesquisa no Instituto de Tecnologia Cirúrgica e Biomecânica da Universidade de Bern, na Suíça, onde cientistas trabalhavam com sistemas de simulação 3D para neurocirurgia. Em meio a uma reunião com cirurgiões plásticos, eles vislumbraram a possibilidade de criar a ferramenta para a área.
“O simulador permite ao médico mostrar uma visualização 3D do próprio corpo da paciente, e assim poder responder a pergunta que toda paciente sempre faz durante a consulta: ‘como meu corpo poderia ficar depois da cirurgia?’, afirma Garcia.
Saiba mais em: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/05/simulador-3d-mostra-aumento-de-seios-virtual-mas-divide-especialistas.html