A cada dez pessoas, quatro fazem uma nova operação para efetuar retoques ou corrigir falhas surgidas depois da primeira intervenção, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. A estimativa ganha maior peso considerando que a cirurgia foi a terceira mais procurada no País no ano passado.
Um dos principais motivos da volta à cirurgia são irregularidades no contorno ou o desvio, nem que seja milimétrico, para um dos lados. “Como está no centro da face, o que acontece com o nariz provoca grande impacto no conjunto”, analisa o cirurgião plástico Alexandre Senra, com clínicas em São Paulo e Belo Horizonte. Foi isso o que levou o engenheiro de computação Marcelo Morais, 25 anos, a fazer quatro cirurgias para harmonizar seu perfil. “Desde criança eu queria reduzir o nariz adunco”, lembra. Aos 17 anos, ele fez a primeira intervenção e, aos 18, a segunda. “O especialista tirou pouco e propôs mais uma cirurgia para retocar. Depois o nariz entortou e perdeu o formato”, conta. Outro cirurgião tentou corrigir e piorou o desenho de vez. “Só na última operação deu certo”, diz Morais.
Mais uma fonte de conflitos póscirúrgicos é o surgimento de dificuldades respiratórias. Pode acontecer, por exemplo, quando tecidos do interior do nariz aderem uns aos outros. Mas há várias outras razões. “Após a cirurgia, a força da cicatrização e a respiração tendem a puxar para dentro os tecidos, afetando o formato e a função”, explica o cirurgião plástico Alan Landecker, especialista em rinoplastia pela Universidade Texas Southwestern, nos Estados Unidos. “No mesmo período, a cartilagem do nariz que foi mexida também pode ceder além do esperado”, diz.
No consultório de Landecker, metade das rinoplastias se destina à recuperação de narizes avariados por fora e por dentro em cirurgias ante riores. O conserto reforça os alicerces antes de dar início à modelagem externa. A técnica, que tem se firmado como uma opção segura nos últimos anos, é feita com a introdução de vigas de sustentação da estrutura nasal. Elas são construídas com cartilagens (tiradas do septo do nariz ou de outras partes do corpo do próprio paciente, como costelas e orelhas) e uma delicada reconstrução dos ligamentos no final da cirurgia. “Isso fortalece as estruturas e pode dar resultados mais previsíveis e consistentes”, diz Landecker.
Procedimentos menos complicados do que as cirurgias, os preenchimentos (injeções locais de substâncias para suavizar marcas de expressão e acertar o contorno do nariz) também podem levar a complicações. A mais constante delas é a formação de irregularidades na superfície nasal por causa do uso de compostos que o organismo não reabsorve. Infelizmente, há quem prefira materiais mais duradouros, como o metacrilato, acreditando que será uma vantagem. Não é.
“A opção mais segura é aplicar apenas substâncias absorvidas pelo corpo, como o ácido hialurônico”, garante o cirurgião plástico Maurício de Maio, de São Paulo. Ele injeta a substância em pontos rigorosamente calculados entre o nariz e o lábio para levantar discretamente a ponta do nariz. “É um efeito discreto, que pode durar um ano”, explica o cirurgião. Na semana passada, a assistente administrativa Vivian Cavalheiro, 26 anos, recebeu duas injeções de ácido hialurônico para mudar o perfil. Uma delas foi dada no alto do nariz, para diminuir a curvatura, e a outra na região da ponta.
“Foi rápido, não doeu e está ótimo”, diz Vivian. A promessa é de que o efeito dure entre um e dois anos. “Faço de novo quando precisar”, diz ela.
Além dos esforços para reduzir os contratempos da delicada plástica de nariz, os pesquisadores procuram entender o que poderia explicar tanta preocupação com esta parte da face. Recentemente, a Universidade de San Diego, na Califórnia, contribuiu para elucidar parte do mistério. Depois de monitorar o cérebro de voluntários com exames de imagem, cientistas descobriram que é exatamente para o nariz da outra pessoa que os nossos olhos convergem quando contemplamos o rosto de alguém. Antes, pensava-se que víamos primeiro os olhos.