Iniciam dietas, tomam pílulas que prometem aumentar o fôlego, cobrem as madeixas brancas e muitos apelam para o bisturi. O fenômeno reapareceu nas últimas semanas, amplificado pelos conselhos dos marqueteiros políticos. Eles não perdoam sinais de nascença e são impiedosos com excesso de peso. Bolsas de gordura emoldurando os olhos, nem pensar.
Em muitos casos, as especializadas dicas de beleza somam-se a iniciativas do próprio candidato. “Os políticos se preocupam menos com o preço da cirurgia e mais com a discrição do médico”, diz o cirurgião plástico Alexandre Senra, que já foi procurado por quarenta candidatos interessados.
Um conhecido vaidoso de plantão é o presidente do Senado, Ramez Tebet, que aproveitou o recesso parlamentar para recauchutar o visual aos 65 anos. Em janeiro, sem fazer alarde, submeteu-se a uma cirurgia para a retirada de duas pesadas olheiras, que o incomodavam havia tempo. Surgiu em Brasília com um respeitável par de óculos escuros, para esconder as cicatrizes, que só somem com o tempo. “A aparência mais jovem ajuda na campanha”, diz Tebet, que passou a ingerir cápsulas de zinco para manter o gás. Causou tititi no plenário.
“Tenho de falar com o Ramez. Quem sabe decido fazer”, anima-se a senadora Marluce Pinto. Para as próximas eleições, ela acha que não dá mais tempo de encarar um bisturi. Em compensação, vai pedir votos com os cabelos recém-cortados para dar mais leveza à aparência e está fazendo dieta para apresentar-se com 2 quilos a menos. A cirurgia nos olhos já levou ao consultório o presidente Fernando Henrique Cardoso e o candidato ao cargo José Serra. Os marqueteiros a consideram essencial quando as olheiras são acentuadas, porque com elas o político parece cansado e sem poder de ação.
Na cartilha dos especialistas, a imagem de um candidato deve combinar credibilidade e aparência “agradável”. Isso não quer dizer que os políticos devam encaixar-se num modelo apolíneo de beleza, mas que tenham um visual bem-cuidado. “O aspecto exterior é fundamental. Lula já se prejudicou com isso e agora está tentando apresentar um visual mais presidenciável”, observa o publicitário Paulo de Tarso Santos, que coordenou as campanhas de Luís Inácio Lula da Silva em 1989 e 1994 e atualmente presta assessoria para o PSDB. De fato, Lula ingressou numa dieta à base de verdura e carne branca, está sempre com barba e cabelo aparados e passou a andar com ternos alinhados. O que não dá certo, segundo os especialistas, é a faxina estética resultar em uma aparência artificial. “Não adianta mexer na boca para tentar mudar o sorriso, porque pode ficar falso, e aí será desastroso”, diz o marqueteiro Nelson Biondi, hoje à frente da campanha do tucano José Serra.
Os americanos são mestres nesse assunto. Eles perceberam na década de 50, com o fenômeno da televisão, que o NOVO VEÍCULO tinha o potencial de alçar uma candidatura às alturas. Um debate entre Richard Nixon e John Kennedy virou o exemplo mais citado no mundo do marketing político. Kennedy, jovem, bonito, bem maquiado e treinado para encarar a câmara, venceu o embate com um Nixon nervoso, sem pó-de-arroz e suando frio. O desempenho foi decisivo para a vitória de Kennedy. E Nixon saiu do episódio dizendo: “Faça tudo o que seu produtor mandar, tudo”.
Os políticos brasileiros hoje entendem bem essa lição e fazem de tudo por uma boa estampa. O baiano Antonio Carlos Magalhães, 74 anos, deixou de comer chocolate e acarajé para perder 15 quilos em cinqüenta dias, uma iniciativa estimulada pelo médico e pela proximidade da campanha. Passou de 96 para 81 quilos à base de ameixa, salmão grelhado e barras de cereais e precisou encolher as medidas de sua coleção de ternos comprados na Daslu, em São Paulo. Na administração do novo peso, ele abre exceções. “Faço questão de morder um acarajé na hora de entrar num hospital, senão pensam logo que eu estou com uma doença grave”, diz. Ex-ministro, o deputado Rafael Greca, que quer se candidatar ao governo do Paraná, foi mais radical. Há um mês, ele recebeu o implante de um balão intragástrico estacionado em seu estômago. O tratamento, que custa 10.000 reais, roubou-lhe parte do notório apetite e resultou em 23 quilos a menos em apenas quarenta dias. Greca, 46 anos, ainda está com 135 quilos, mas vai permanecer quatro meses com o balão para perder mais. “Quero GANHAR agilidade. Só como porções elegantes, de dar inveja aos mais refinados do Itamaraty.”
A preocupação em pedir voto no auge da forma física inspira fórmulas complexas. A da deputada tucana Yeda Crusius, 57 anos, incluiu uma demorada visita ao dentista. Ela procurou o especialista para igualar a tonalidade e a altura dos dentes, um detalhe que considera fundamental. O objetivo assumido é estampar uma imagem impecável na televisão quando aparecer pedindo votos para o governo do Estado do Rio Grande do Sul ou para a reeleição como deputada. Sua preocupação é tanta que já baniu de seu cardápio álcool e alimentos gordurosos e passou a caminhar 45 minutos todas as manhãs. “A imagem ajuda a ganhar voto”, acredita. Há quem vá mais longe. A receita do ex-ministro Ney Suassuna, candidato ao governo da Paraíba, tem direito a tudo: Xenical, pílulas de óleo de alho e para tirar a fome, digestivos, 400 abdominais por dia e uma dieta de proteínas à base de ovo frito e queijo amarelo: “Sou baixinho, careca e feio. Se também ficar gordo, não vai ter futuro para mim”.
Saiba Mais: http://veja.abril.com.br/240402/p_076.html